sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

POEMA NASCIDO PARA SER FELIZ

 
NASCIDO PARA SER FELIZ  
Foi Deus que assim o quis
 Saltar fora do ninho, vaguear implume
Nascido para ser feliz
Saltitando como a codorniz, parecendo vaga-lume
Fugidio, assim foi o petiz
Com quatro anos entrava no cardume
Um dia algo aconteceu, sem deixar cicatriz
Corria puxado por um volume
Sem inda saber era, do progresso, geratriz
Uma furgonete com o habitáculo de madeira e betume,
Madeira era a sobrepeliz
Choveu - A rua se encontrava num negrume,
A Rua era de terra batida, daquele tempo cicatriz
Na correria aconteceu, na água rodou, aquela saltou em volume
O petiz, de calção domingueiro, não tinha cicatriz
Logo do pára - choques se afastou, sem queixume
Correu a casa, a mãe foi bem uma imperatriz
Apazigou e tornou o momento incólume
 O episódio ainda em jeito de filme passa pela memória, num triz
Passaram cerca de setenta anos, o recordar é costume
Foi Deus que assim o quis!
O petiz foi, de certa maneira, precoce sem sentir azedume
 Nascido para ser feliz!


Daniel Costa

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

POEMA MANIFESTAÇÃO DE CARINHO MIMORIZADA

 
MANIFESTAÇÃO DE CARINHO MEMORIZADA  

 
Pela primeira vez estilizada
Havia terna manifestação de carinho
Manifestação de carinho memorizada
A recordação persistia como alvorada!
Sempre recordei a ternura, o miminho,
Dessa já septenária e fugaz revoada
Dessa terna alvura de menininho,
Da criança que comigo andava na Rua de mão dada!
Algum tempo passou, suspirei devagarinho:
Deixei de enxergar, a “amada”
À mãe questionei por aquele amorzinho
Deus a chamou: foi a resposta dada!
Muito criança, três anos apenas, senti desgosto adivinho!
Só posso adivinhar, de uma forma distanciada
Setenta anos passaram, a terra comeu aquele anjinho!
Sobrevivi eu, com a vontade de viver arreigada,
Quem sabe se ela sempre ficou o meu arquinho?
Do meu positivismo, guarda?
O meu brinquinho!
Que fixou em mim uma recordação consumada,
No meu coração tem ainda um lugarzinho
Manifestação de carinho memorizada
Respondo no poema, meu atual brotinho!
Manifestação de carinho eternamente memorizada!
Meu anjo: eu confio na vida e adivinho!
 
Daniel Costa

 
 

POEMA O EU INTIMORATO

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O EU INTIMORATO

Com luar de aparato
Numa noite de Agosto, de Verão
O eu intimorato
 Estava na colheita do feijão
Traço aqui um auto - retrato 
Estava no bucolismo da terra do camarão
A seara de milho suportava em desiderato
Em desiderato a do feijão, que os pais colherão
De noite, pela fresca, evitando o áspero ingrato!
O calor faria, a apanha, debulhar o grão
Era o jeito, para que chegasse tudo ao prato
A certo ponto… A mãe pôs a mão no coração
 Deixara dois anjinhos a dormir em casa, de facto
 Para seu descanso, só havia uma solução
As duas meninas de colo eram parte do seu estrato
Deixaria de estremecer, se elas fossem espreitadas por um irmão.
Naquele bucólico luar, eu indómito, até fiquei grato
Em jeito de aventura, fui só, era o varão!
A cor do medo não sabia, aceitei cumprir o mandato
 A contento, intimorato, cumpri a missão
Não perfizera seis anos, ainda era iliterato!
A mãe pelo facto de, sem senão, eu ter acolhido a comissão
Mostrou ter ficado admirada, foi bombarato!
Hoje todos sabem a minha aptidão
O eu intimorato! 



Daniel Costa

 
 
 


 

domingo, 25 de janeiro de 2015

POEMA ÀS PORTAS DO CÉU

 
ÀS PORTAS DO CÉU  
Esperanças, sem véu
Tinha três anos apenas, mas recordo
Às portas do céu
Mesmo a bombordo
Lugar para mim deu
A tia Regina - Parecia absurdo:
- Jazia ali, seu corpo devia entrar num mausoléu!
 Caritativa; em tenra idade me fez felizardo
Era bastante miúdo, mas sou quem nunca a esqueceu
Comigo repartia, como se me tomasse por galhardo
Acesso a bananas era para tuberculoso rico, um Galileu!
Ela tinha! Sempre comigo repartia, quando estava a bordo
Setenta anos passaram mas a reverencio, tirando meu chapéu
Talvez fosse para não deixar sós os dois filhos, fui alado
Como se viajasse ao Bornéu
Fui ter oportunidade de amar, como já me sentira amado
Amar quando a tia amiga, feneceu
A olhei solenemente, com resguardo
Fiz como vi fazer, o momento era solene, me comoveu!
Sentimento perene que abordo
Às portas do céu
Voou e ali adormeceu!
Às portas do céu!


Daniel Costa

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

POEMA NA TERRA O PURGATÓRIO

 
 
NA TERRA O PURGATÓRIO 
   
Será obrigatório?
Será talvez dogmático!
Na terra o purgatório
Dizer será carismático!
Céu, purgatório, inferno, velório
Jeito beático
Quatro anos, dado categórico
A mãe talvez achasse, saber-me estático
Levou-me aquele partilhado oratório
O avô Zé da Avô jazia, em jeito simpático
A mesma simpatia de relatório  
Ficara louco, não precisava de ser simpático
Para a sua mente doente, já tudo era aleatório
Não reconhecia os seus netos, ficando cismático
Quando o único que conhecia, o Luís Honório
O olhava e dizia, é o Daniel filho da tia Madalena, enfático,
Respondia: “coitadinho do meu netinho”…  O recordo simplório
A frase, do seu parco vocabulário automático,
Automático, de louco sem reportório
Na terra paradigmático
Céu, purgatório inferno, será na terra o zimbório
Foi cá que o avô, por afinidade, penou dramático!
Antes de enlouquecer, seria já um ser abonatório
A impressão ficou a de avô simpático
Com tão tenra idade andava quilómetros a sós ao Foz, ao sanatório!
A vista do mar, a imensidão prendia o meu olhar fotográfico
Vi na terra o purgatório
O penar do avô enlouquecido, antidogmático
Céu, purgatório, inferno, velório!
Na terra o purgatório!



Daniel Costa
  

domingo, 18 de janeiro de 2015

POEMA APRENDER É DEMAIS


 
APRENDER É DEMAIS

O princípio está nos anais
Toda a gente tem a sua história
Aprender é demais
Se não me falha a memória
Mil novecentos e quarenta e sete mencionam os forais
Comecei na escola, senti como vitória
Ano em que passou a terceira classe, não mais
A ser oficialmente obrigatória
A população escolar já tinha números anormais
 Para aumentar as estruturas nova sala na hora
Criada em termos pouco formais
Passou a haver então nova embora
Ficou com metade de sua casa mais os quintais
Cândido João cedeu, aproveitou realizar dinheiro na Torá
Duas salas de aula eram pouco para todos pardais
A professora, Marquinhas rejeitou, como se deitasse fora
Eu e o primo Honorato fomos excluídos dos ademais
  A mãe fazia questão que eu ficasse na maioria
Porém, teve de procurar outro cais
Encontro-o em Ribafria, a Felisbela aceitaria
Diariamente, carregados os bornais
Eu e o primo do trajeto fazíamos uma rebaldaria
Em pouco tempo, a quatro amigos, ficámos leais
Era o Engrácio o Espírito Santo e os dois José na pradaria
Ao fim de poucos dias a Marquinhas nos aceitou no cais
O tempo da folia e a quilometragem acabou para Riba Fria
Os amigos por anos vê-los jamais
Até que o Engrácio; voltei a ver já na aposentadoria
Aprender é demais!

Daniel Costa

      


 

sábado, 17 de janeiro de 2015

POEMA FÚRIAS



Foi frente a esta escola que então, só tinha andar térreo, que frequentava, que se deram os jogos de hóquei (de imitação, diga-se).
 
      FÚRIAS      

Tempo de jogos; alegorias!
Eram assim comuns as designações
A professora reparou e designou; fúrias!
Observou as habituais aglutinações
Era o rapazio numa ode às alegrias
Desta vez, não se ia jogar com berlindes ou piões
O jogo de hóquei estava nas fobias
Tempo de Portugal, no hóquei dar lições
Os primos Correia eram como Golias
No hóquei patinado, eram gigantões
  Elevavam o nome de Portugal, tinham regalias!
A Emissora Nacional mandava relatar em vários serões
Por Amadeu José de Freitas, também ídolo das nossas fúrias
 Nós miúdos; os íamos imitar, jogando, sem calções
Em homenagem aos internacionais com idolatria
Durante certo torneio de Montreoux, sem confusões
Ganharam e elevaram a Pátria sem euforias
Mais uma vez foram internacionais campeões
Confesso que por eles em mim ficaram idolatrias
A bola é transportada por Jesus Correia sereno, sem interrupções
Este passa para Correia dos Santos… Golo!... Magias!...
De hóquei em patins, ídolos sem ilusões
Era em terreno livre, frente à escola, não eram lérias
Os primos Correias da infantilidade ídolos, paixões!
Cerca de vinte anos depois, falava com os dois – Dia de alegrias!
Naturalmente, sem divinações,
Fúrias?!
 
Daniel Costa

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

POEMA O SILÊNCIO É UM GESTO




O SILÊNCIO É UM GESTO  

Proferir, é manifesto
O silêncio é de ouro
O silêncio é um gesto
Podendo ser duradouro
Silenciar poderá ser protesto,
Protesto poderá ser tesouro
De comportamento modesto,
Isenção de pelouro
Evitando ser exposto
Estacionado em ancoradouro
Revolução a contragosto
Antes, desaguadouro
Pretender ser sempre honesto
De paz germinadouro
Para que tudo seja augusto
Gesto feliz imorredouro
Com silêncio não molesto
Atitude de resfriadouro
Em resoluções simples invisto
Cuidarei do meu semeadouro
Por rudimentar, não desisto,
Nem perante touro
Me transcendo e insisto
O silêncio é um gesto!

Daniel Costa